Sunday, November 15, 2009

Eu hoje joguei tanta coisa fora...


Hoje foi o dia de me desfazer dos velhos móveis do meu quarto. Foram-se um beliche, com cinco gavetas, mais um guarda-roupas e uma mesa. Enquanto limpava todas as gavetas e ajeitava as coisas em algum canto, pude perceber a dimensão do entulho que eu guardava dentro destas gavetas - das quais algumas já há algum tempo eu nem abria.

Folhas amassadas, apostilas da faculdade, anotações, boletos, lápis quebrado, cartões de visita, fotos empoeiradas, meias, algumas cartas antigas. Foi um passeio por tudo o que nunca me prestou. Todas as coisas que eu reneguei ao abandono, mas não tive coragem de jogar fora, tiveram aqui seu último suspiro de utilidade, antes de juntarem-se no saco de lixo para seu derradeiro destino.

Devo admitir que nunca fui muito forte para as mudanças. Abdicar de alguns pequenos objetos, que contem em si um significado pueril. Por mais simples que possa parecer, não o é. Pelo menos para mim. Minhas gavetas que sobraram continuam abarrotadas de revistas antigas, textos, páginas recortadas de alguma publicação. Neste caso, são coisas que já li e quase nunca releio. Mas saber que estão aqui, e que a qualquer hora posso recorrer a elas, me conforta.

Este é um comportamento que eu posso estender ao restante da minha vida. As mudanças para mim demoram a ser digeridas. Sou um indeciso por natureza. A questão, "ou isto ou aquilo" me consome. Com tamanha avidez... Posso afirmar sem medo: dúvidas e mudanças são meus pontos fracos mais fracos. A dúvida do rumo à seguir e o desconforto das mudanças empacam meu desenvolvimento em muitas áreas da minha vida. Tanto nas sentimentais quanto nas mais práticas.

É por isso que eu estou dedicando este post às mudanças no meu quarto. Porque elas significam muito mais do que isso. É o meu anseio por mudanças que está escancarado aqui. Um período longo de tentativas - hora mais hora menos bem sucedidas - de que a minha existência configure-se de forma mais leve. Sem as amarras da ansiedade e da incerteza do que está por vir.

Livrar-me dos entulhos me deixou mesmo mais leve. O quarto, por enquanto ainda sem móveis, está arejado, pronto para que uma reorganização mais proveitosa do espaço seja realizada. Claro que no que diz respeito à nossa mente e comportamento, essas mudanças são mais espinhosas do que remontar um quarto.

Como diria meu psicólogo, o diabo está no atalho, portanto, aceito este caminho espinhoso e desafiador. Me livrar dos excessos e adequar-me às mudanças. Tá aí uma boa forma de tornar a vida mais fácil.

Sunday, November 08, 2009

Observar, escolher, clicar




Talvez o melhor investimento que eu fiz esse ano foi comprar um celular com câmera fotográfica. O telefone é acanhado, oferece alguns recursos que não impressionam. Ele tem um cartão de memória onde eu guardo alguns dos álbuns que ouço e as fotos que faço. Sua feição é simples. Minimalista. As teclinhas são pequenas, a tela colorida de um tamanho nem tão grande nem tão pequeno. Sua anatomia fininha faz com que ele caiba até nos meus bolsos mais apertados.

Sua funcionalidade é limitada. Mesmo não pegando em muitos lugares que eu costumo frequentar - na casa da Isa ele simplesmente morre -, o aparelho me mantém conectado durante o dia inteiro, inclusive nas madrugadas, período em que sempre recebo algumas ligações.

Pra falar a verdade, eu nunca fui muito amigo das tecnologias. Acho que existe um deslumbre desnecessário no qual a capacidade de análise e interpretação se perde na urgência por novos modelos e suas infinitas possibilidades. Aliás, pra mim existem apenas dois tipos de assuntos dos quais eu fujo igual o diabo da cruz: novidades tecnológicas e aqueles frequentes nas salas de academia, tipo "ganhei 2mm de bíceps, estou trabalhando o peitoral, eu quero uma barriguinha trincada...".

Feito este adendo tenho que admitir - mesmo assumindo uma certa incoerência - que este meu aparelhinho tem oferecido uma possibilidade que ultimamente está me viciando: a de registrar meu olhar sobre as situações cotidianas por meio de sua parca lente fotográfica. Estar com uma camerazinha, que, como eu já disse, cabe no mais apertado dos bolsos e que de tão comum é quase invisível, está me permitindo captar - com uma espontaneidade que compensa as deficiências técnicas - estes acontecimentos que antes passariam imperceptíveis.

Na minha página do orkut tenho publicado todo o material que eu coleto por aí. Neste exercício, mais importante do que os registros em si, é o fato de eu retornar a um olhar mais sensível sobre as coisas simples. Eu sempre vi muita beleza no cotidiano, naquelas típicas quartas-feiras citadas por Mário Quintana.

Há tempos eu tinha perdido o prazer em vivenciar situações corriqueirascomo o trajeto até o trabalho, um café com uma pessoa que você gosta durante uma pausa no expediente, um almoço comum, uma caminhada até a padaria, uma conversa sobre os resultados do futebol... Não dando atenção a estes pequenos e deliciosos prazeres - nos quais as coisas se mostram exatamente como são - estava me anulando um pouco, perdendo toda a graça da vida.

Eis que esse aparelhinho meia-sola me ajuda a despertar novamente para toda esta complexidade. Não sei se vou continuar fotografando, mas prometo aguçar minha sensibilidade para desfrutar toda a beleza destas quartas-feiras comuns.