Separação
Ela me deu um cheque em branco para que eu pagasse minhas contas com o dentista. Assinou e me entregou.
Depois, meu de seu coração em branco, para que dele eu me servisse. Rasgou-o do peito e me entregou.
Observei-a mutilada em meio às malas que se empilhavam. Seus olhos eram abismo árido. Vermelhos, expunham-me a úlcera avassaladora que lhe perfurava a alma.
Como uma garganta ressequida anseia por qualquer gota d´água, sua figura - agora toda uma ferida explícita e ardente - debulhava-se por qualquer sopro vital para não sucumbir.
Estremeci, me contagiei. Mas antes que meus lábios se movessem, contive a precipitação da fala. Balbuciei, engoli. E não cedi.