Thursday, October 15, 2009

Para quem interessar

Daqui eu o observo. Reparo no seu rosto indiferente, no detalhe das singelas rugas no canto dos olhos. As mãos grandes, calejadas. Dedos, unhas... Os cabelos lisos um pouco quebrados pelo frio.

Suas malas empilham-se no carpete, as duas maiores ficam por baixo. Eu sei, já vivi este momento. Como sempre, eu engulo a minha angústia e abafo todo o clamor do meu coração.

Prontamente ele despe-se do casaco que eu lhe dei. Quando volta do banho, o penteado parece diferente, a barba feita... Já a algum tempo não faz questão de esconder a aliança dourada que ostenta no dedo médio da mão esquerda. Eu deixo que seja assim e minto não me importar.

Eu me pergunto o que fazer do meu amor enquanto escuto o carro do taxi ao portão. Mal me dirige um olhar. Por que não se manifesta? Nenhuma palavra, sequer um elogio - tantas vezes desperdiçado de sua boca quando estamos juntos.

Te ajudo com as malas. Lá fora o frio castiga, congela minhas expectativas enquanto eu me esforço para manter minha serenidade aparente. A iminência da solidão me toma subitamente. Me preenche por completo.

Há algumas horas daqui ele estará na companhia dos filhos e esposa. Estará em casa. Em uma realidade onde eu não existo.

Volto para a sala. A solidão carrega a atmosfera e me bate de chapa. Eu choro, imóvel. Escorrego para o quarto, apanho o casaco deixado no chão. Me deito e espero uma mensagem sua.