Tuesday, February 02, 2010

R$ 4,84

Tenho quatro reais e oitenta e quatro centavos na minha conta. Sem poupança, economias no cofrinho, sem crédito especial no banco pra me livrar a cara. Nada. Quatro mangos. De segunda à sexta é com isso que eu vou sobreviver.

A passagem do ônibus é dois e cinquenta. Uma ida ao trabalho e lá se vão metade de tudo o que tenho.

Se bater a fome e eu for na Neusa comer um dog, já era. Foi-se minha verba semanal.

Quatro pilas. Eu passo pela loja de imãs. Compro dois pra coleção. E passo a semana à pé e com fome.

Com meus quatro últimos tostões não pago os dvd's que eu to atrasado pra devolver.

Vou ter que ligar pros outros à cobrar. Pois a conta do celular fica pra próxima.

Ah se meu pai aceitasse quatro mí réis como pagamento de tudo o que eu to devendo pra ele...

E meu inglês então? Assim vou ficar no de buqui ison de teibou.

Com quatro paus eu não compro meu saxofone. Nem a boquilha, nem a palheta 1 1/2 que o professor me mandou comprar na loja ao lado do Novotel. E nem vou mais ter professor nem nada, quatro reais não dá nem pra tirar do caixa eletrônico.

Com quatrão então eu não vou aprender a tocar igual o Coltraine.

Se passar fome vou trabalhar mal. E serei demitido. "Desculpa, mas sabe o que é? Só dormi no teclado porque quatro reais não me pagam a comida. Leva a mal não."

Quatro reais é o que se gasta nuns dois dias - ou num dia daqueles - na máquina de café do jornal, à cinquenta centavos o copo.

Quatro reais. Sinal de que a semana vai ser casca e de possibilidades adiadas.