Sunday, June 17, 2012

Ao conhecê-la, passou a ser objeto numa espécie de quebra-cabeça às avessas:

em cada movimento ela o desconstruía em mais uma peça.

Não demora e todo ele estará espalhado em qualquer lugar.

Então por que a lenta mutilação lhe exerce tão profundo fascínio?

Realizemos, caros amigos, o maior desejo daqueles mimados desde a primeira infância: ofereçamo-lhes um espelho grandioso. De suficiente tamanho para suportar todo o inflar do ego. Um companheiro insuperável nos sublimes momentos de exaltação a si próprios. 


Poderiam então os nossos abastados companheiros contemplarem suas perfeitas feições ao nos transcrever detalhadamente os feitos incríveis que suas capacidades intelectuais mui elevadas lhes proporcionam dia após dia.


Fascinados com o próprio reflexo, talvez assim nos poupem dos pitis que desferem quando são obrigados a se lembrarem que os ouvidos também servem para decodificar falas alheias e nao apenas para apreciar suas esplêndidas lucubrações.


Torçamos, pois, para que o ímpeto de açoitar tudo o que lhes é estranho não seja ainda mais forte que o encantamento de seu retrato refletido.

Sunday, June 10, 2012



Vem de baixo das pedras, do beco, da maresia e dos balcões.

Vem do sal, da boca molhada, da bota manchada, do intrépido e desvairado despencar das águas às rochas concretas.

Do palco, olhos, encontros, descaminhos, tropeços, quedas, stramberry fields na agulha, da maré que transborda e invade, da melodia destoante dos idiomas, da miscelânea colorida.

Vem do bumbo, da caixa, do sopro e das cordas. Da blue note se expandindo e do Renoir escancarado no céu que não existe.

Em tudo há a sutileza de um sussurro. Acariciando os tímpanos: inspire-se e sonhe.

Monday, June 04, 2012



Surto: ando meio cheio de tudo. Em explosões solares, a angústia avança pelo universo de dentro de mim. Ecoa em meu desmoronar.

É desejo latente, alimentando brasa oculta e maculada. Teu lugar ausente, teu chá fervente, tua boca amarga. A falta do desmanchar-me em ti.

Todo o aglomerado caudaloso que, preso à membrana já disforme, condensa, ferve e pressiona.

Em breve não mais será delineado. Enfim, a atmosfera. Logo menos, todo o espaço