Wednesday, June 09, 2010

Espelho

Num fim de semana, no auge de uma bebedeira alucinante, me peguei enviando uma mensagem no celular. Pra mim mesmo: QUEM SOU EU? , eu perguntava. E como fosse um eco, a mensagem saiu e voltou ao endereço que é ao mesmo tempo destinatário e remetente.
Vai. Então volta. Eco. Pergunta-resposta, para a pergunta que é a resposta da pergunta: "Quem sou eu?".

Preso neste não ser inerte, amórfico, a questão nunca se configurou assim tão monstruosamente impenetrável para mim. Dá voltas na minha cabeça, tensiona meus nervos e se torna visceral.
Antes derramasse de forma mais delicada nas lágrimas que eu não choro. Mas não. Continua austera, a pergunta. Presente no vazio que não é desespero e nem é nada. Antes fosse. Antes me consumisse, levasse tudo o que eu tenho.

Sempre que vem à tona, eco opaco e seco: "Quem sou eu?" é para escancarar à luz de sua realidade concreta que tudo tem sido mentiroso.
E por meio da dor - sempre a dor - cobra de mim decência e sinceridade. Esbugalha minhas faltas: Falta verdade! Falta sentimento! Falta coração!
São sinceros os livros na cabeceira? São sinceras as conversas, as noites mal dormidas, a ansiedade, os pretextos, o ganha-pão, a obsessão, o coração multilado e o amor que não foi? NÃO!

E o eco vai. Depois volta. Sussurando: "Quem sou eu?"

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