Monday, June 22, 2009

Meu violão é um grande companheiro. Fica durante 360 dias do ano encostado no minúsculo espaço entre meu armário e a parede. É empoeirado - antes o guardava numa capa preta, que o mantinha quase intacto, mas esta se perdeu. O pó então se acumula em uma grossa camada, principalmente entre as paletas de afinação, bem no final do braço. As extremidades apresentam, todas, lascas resultantes de tombos e arranhões, culpa do meu desleixo.
Não sei afinar o violão. Meu vó, há uns três anos, foi o último a afiná-lo. "Este violão está bem empenado", ele disse. O instrumento não é de uma linhagem nobre, longe disso. Sua marca é nada conhecida. E hoje está bem apagada.
Ganhei meu violão como presente de natal, em algum ano da década de 1990. Não sabia sequer um acorde quando abri a capa e senti seu cheiro forte de madeira que, de forma inexplicável, conserva praticamente intacto até hoje.
No ano seguinte foi com ele que passei tardes inteiras na casa da tia Sônia, na companhia do meu primo e em meio a dezenas de revistinhas que traziam os acordes. Os dedos da mão esquerda, iam ficando calejados pelo contato com as cordas. Que também se gastaram, exigindo trocas constantes. A última deve ter sido feita há quatro ou cinco anos, se não me falha.
Pouco evolui como músico. Toco hoje da mesmíssima maneira de anos atrás, quando estava aprendendo. De diferente apenas os dedos, que sem a proteção natural sofrem quando eu resolvo arriscar-me de novo.
Ainda que lhe falte uma corda, que as outras apresentem um aspecto enferrujado. Mesmo desfalcado de uma das palhetas de afinação ainda assim meu violão é o único - único, repito - desafogo para momentos tensos. E eu, o único que consegue ouvir, em sua combinação ruidosa, uma melodia irretocável. Somos parceiros, de fato.

1 Comments:

At 7:03 PM, Anonymous Anonymous said...

Juca! Vou apresentar seu violão ao meu, que está sem corda! Acho que eles vão se entender.

Isabela

 

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