Sunday, October 16, 2011

dança




Para aliviar a consciência da Andressita, esse doce de pessoa, que não acredita que eu me diverti observando os casais dançarem forró enquanto, por motivos óbvios de incapacidade motora, me restringi a ficar de lado. Depois de vigiar um par em especial, escrevi um texto no celular.Posto abaixo:

Então ele nem pediu. Houve ali uma concessão difícil de explicar. Privilégio dela, permitido apenas para ele.
Um movimento especialmente plástico e displicente lhe bastou para que ela se deixasse levar sem demonstrar a menor restrição. E nesse instante, numa sintonia fina, os dois ganharam o rústico salão.

Trançavam as pernas numa trama sem ensaios, mas em perfeita sincronia. Ah, aquilo era mais do que dança. Com os olhos fechados e rostos colados, giravam-lhes também as almas.

A cadência era desapressada. E as mãos não só entrelaçavam-se, mas se complementavam, se preenchiam e se saciavam. Como num quadro de Klimt, os dedos se procuravam intensamente.

Talvez por culpa do veludo do acordeon, talvez pela fresca da noite, talvez o conhaque... A honestidade daquela trama toda me rendeu um nó na garganta de emoção. Daqueles que pintam quando um sentimento transcende as coisas tangíveis para nos tocar bem onde a nossa mais pura essência humana teima em se esconder.

Eles continuaram dali à diante. Misturaram-se aos outros casais. Engoli num longo trago minha frustração por não saber dançar.

1 Comments:

At 4:03 AM, Blogger Stela Guimarães said...

Bons textos! Retribuindo a visita ao quase falecido artificialflavored. Abração! =)

 

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